terça-feira, 24 de novembro de 2009

Dia 3 (Oportunidades perdidas)

Ele passava por ela todos os dias. Era cedo, no caminho para o trabalho, e ela já estava lá. Sempre sentada com uma velha, na frente de casa. Imaginava que era sua vó. Cabelos brancos e curtos, rugas, vestidos sempre claros. Ela, por sua vez, era ruiva. Até sardinhas no rosto ela possuía. As duas sentavam em um banco entre as flores. Quando o sol refletia sobre sua pele, contrastando com seu cabelo, ficava divina!

Passou-se 3 meses assim. Passava de ônibus na frente de sua casa e a observava. O coração até batia mais forte quando chegava na esquina da rua Anjos com a rua Ipanema. Se perguntava quando teria coragem de conversar com ela. Imaginava casamento, filhos, momentos românticos no parque, brigas na cozinha de casa, sexo depois da briga no sofá da sala. E nada de conversar com ela.

Um dia, como não podia deixar de ser, passou por ali e ela não estava. Ficou confuso. Não se concentrou mais no serviço. Fez tudo de qualquer jeito. No próximo dia, o fato se repetiu. Onde ela devia estar? Acontecera alguma coisa? No terceiro dia, a mesma cena. Pensou em saltar do ônibus e perguntar por ela. Não teve coragem. De noite, pensou em todas as possibilidades No quarto dia, desceu do ônibus e foi até a casa. Chamou pela velha. Perguntou sobre a moça.

"Ah, meu jovem. Conhecia minha neta? Foi uma lástima de Deus. Sofreu um acidente há três dias. Um motorista bêbado fez aquilo com a pobrezinha. Conseguiu resistir até essa noite. Se tivesse vindo ainda ontem, encontrava ela..."

Foi embora. Nunca soube o nome de sua amada. Preferiu assim. Foram-se os filhos, casamentos, parques e sofás da sala. E a coragem...

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