sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

chuveiro maldito, cigarro e brasileiros no ônibus

!Hola a todos!

Hoje o dia foi bom por aqui. Teve sol por muitas vezes durante o dia, mas fez mais frio do que nos outros dias. Estava a 8 graus, sem falar do vento, é claro. Venta muito por essas bandas, principalmente nas ruas principais, que são mais abertas. Isso faz com que a sensação térmica diminua. Tenho usado meu casaco de moletom e um maior por cima, que, teoricamente, me mantém ileso à chuva e ao frio. Estamos testando, por enquanto.

Tive novamente problema com o chuveiro. Aquela porcaria não vai com a minha cara. Tremia diante daquela água gelada. E não é figura de linguagem. Ainda aprendo como funciona. E o pior é que não dá nem pra ficar sem tomar banho de manhã, porque aqui todo mundo fuma, e, ao sair de noite, se fica fedendo a cigarro. A muito cigarro. Isso que é bem diferente do Brasil. Com lei anti-fumo e o escambau, ainda existe a possibilidade de sair de noite e voltar "limpo". Mas, aqui, não. E mesmo em cafés, restaurantes e outros lugares. Tudo fechado e o tio lá, fumando. Só falta fumar no autobus.

Fui pra Universidad com a guria da Letônia, Laura. É bom que pratico meu inglês já cedo. Assim que chego lá, tenho que ligar o botão do español. Hoje, pelo menos, cheguei na hora. Discussões sobre o filme chinês, Deseando Amor, de Wong Kar-Wai, passado ontem. O que mais fazemos é debater sobre as técnicas utilizadas. Trocando em miúdos, é como um curso de cinema. Mas ainda vejo que há possibilidades de usar no jornalismo, como "planos" e "fora de plano". Depois do intervalo, filme inédito, Ciudad de Dios, de Fernando Meirelles. Fiquei imaginando o que os espanhóis pensam do Brasil depois de uma película dessas. Violência, drogas, sexo. Por isso que, quando vão para o país, chegam "matando" nas mulheres, achando que tudo é fácil (não que não seja de vez em quando). Pelo menos terei mais coisas pra comentar na próxima aula, quarta-feira. Não me pergunte o porquê de não ter aula na segunda e terça, que não sei. Só sei que é só a minha turma. Todo o resto da UDC terá.

Descobri, de tarde, que, para se comprar a internet pro piso, teremos que ter alguém com conta espanhola. Isso sem falar que são 50 euros pra instalar as coisas, além de demorar até 3 semanas pra eles virem. Depois falam do Brasil. Vou tentar arranjar essa conta com os contatos. Pois é. Tô fazendo alguns por aqui. Um bom jornalista precisa sempre tê-los.

E é na sexta-feira que se tem aula de espanhol para os estrangeiros. Aula de apresentação. Básico. Hoje foram 8 alunos. 1 alemã, 1 da Eslováquia (já conheço duas pessoas de lá, hein!), 2 irlandesas, 1 italiana e 3 brasileiros. A Mell, com quem dividi o hostel, eu e uma carioca, Laura, que faz biologia na UFRJ. Resumindo, o único chico da sala. E ainda faltaram outras 3 meninas. Não que isso signifique alguma coisa, né? Vi também que a nossa é a última turma, ou seja, somos os mais avançados (Valeu Noemi!). Bom e ruim ao mesmo tempo. Fiz só 5 meses de aula particular, então ainda sou meio deficiente em gramática, que será o forte da aula. A professora até pediu pra mim e pra Laura uma conversa no fim da aula. Falou que tinha medo de nossas dificuldades, e que poderíamos atrasar o andamento da aula, já que as outras chicas estavam bem avançadas. Perguntou se queríamos ir pra uma turma abaixo, mas dissemos que seria bom continuar, nos forçando a estudar e aprender mais. Ficamos. Vamos ver no que que dá. São 10 aulas, contando com essa. Dia 14 de maio acaba. E, depois, não tem mais aula de espanhol. Triste. Não saberei o que fazer nas sextas. Até parece!

Voltamos tocando o terror no ônibus. Da UFSC são 7 (3 de jornalismo, 1 de psicologia e 3 de economia). Também tem um gaúcho, Fabrício, a carioca (sei que tem mais 2 por aí) e um paraense, Renan. Pelo menos está aumentando a comunidade brasileira por aqui. Já tenho mais gente pra visitar e ficar com menos saudades do país.

Continuo no café perto de casa, e acredito ficar assim por um tempo ainda. Ou se eu filar de alguém. São 21:40 aqui.

Besos

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

dia do chinês, sol e internet "de graça"

!Hola chicos!

Hoje o dia foi muito bom. Tive que acordar cedo, 8:30 da manhã, para poder fazer minha mudança. Terminar de arrumar as coisas, no hostel, e partir. O bom é que não me lembrava muito bem onde era o prédio onde vou morar a partir de agora. Mas tudo bem. Depois de alguns percalços, o achei. Joguei minhas coisas no quarto e fui pro banho, onde travei uma luta ferrenha contra o chuveiro! Diversas opções e muita água gelada. Foi nesse momento que entendi a lenda de europeus não tomarem banho. Mas não se preocupem, consegui alguns momentos de água quente!

Depois, aula. Tirando o fato de chegar 1 hora atrasado (cheguei às 11) e entrar falando com meu sotaque estrangeiro, foi legal. Entrada marcante. Meu estilo. Chegar vendo muita gente falando ao mesmo tempo, com os mais diferentes sotaques espanhóis, me deixou muito confuso! Depois de algum tempo é que descobri que eles estavam discutindo o filme passado ontem, Pulp Fiction. Hoje, vimos um filme chinês, bem interessante (não me lembro do nome agora). Descobri que, nessa matéria (Narrativa Audiovisual) tem outra brasileira (carioca da UERJ), uma menina da Letônia (minha colega de “piso”), uma norueguesa e uma polonesa. E não, tem muito homem naquela turma. Nem tudo é perfeito.

Na hora da siesta aproveitei pra organizar o quarto. Fácil, fácil, com minhas duas malas. Fiz uma moral e varri todo o apartamento, mas, como não tinha ninguém em casa, acho que não vão perceber. Fiz a boa ação do dia, né? Corri atrás de um “paraguas”, já que chove a todo momento em La Coruña. (Esqueci de comentar que hoje fez SOL!!! Mas sumiu em pouco tempo. Maldito!) Achei uma loja com muitas coisas estranhas: camisas de super heróis, uniformes militares, artefatos de maconha. Cada coisa que se vê por aí, né? Consegui comprar minhas roupas de cama, meio que aveludadas (por causa do frio, e não por mudanças de opções sexuais!) em uma loja chinesa. Até aqui se encontra a Casa China (famosa em Ponta Porá). Foi o dia do orgulho chinês pra mim.

Nesse exato momento, estou em um café. Não tem internet em casa ainda (se tudo der certo, amanhã arranjamos uma). Só comprar alguma bebida e temos internet. Lindo, não? Minha bebida acabou faz 3 horas, e não me expulsaram ainda. E ainda ta rolando uma comédia stand up aqui. Pena que é em espanhol. Nem pra rolar uma tradução simultânea.

É isso aí, pessoal! Exatamente 23:43 de la noche. Daqui a pouco começa a balada aqui.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Aviões, maletas perdidas e explorações iniciais

Depois de sair às 13.20 de Campo Grande (22/02/10), passar 6 horas em Guarulhos, 10 horas entre São Paulo e Lisboa, conhecer o tumultuado aeroporto de Madri e dormir até La Coruña, cheguei (23/02/10), e vivo, aqui! Para quem não sabe, passarei 5 meses nessa cidade litorânea. Para dizer que comecei com o pé direito, uma de minhas 2 malas sumiu no caminho. Devido a minha experiência, ou sorte, dividi todas as minhas coisas entre as duas. Logo, ainda tenho bermuda, camiseta, cueca e meia aqui comigo. E foi na que chegou aqui que coloquei tênis, chinelo e casaco! Isso sim é suerte!

Fiz meu reconhecimento noturno. Mesmo embaixo de garoa (chove muito aqui) e friozinho (em torno de 12 graus), vi muita coisa. Tive uma ideia da praia (mesmo de noite, é muito bonita a costa) e das ruas. São muitas ruelas por essas bandas, e é muito fácil de se perder. Mas uma coisa que diferencia bem La Coruña de Floripa é a grande quantidade de bares. São muitos! Bares pequenos, mas que têm "tapas" (lanches), além de padarias e cafés. Comi em um lugar em que tudo é por 1 euro. Comidas típicas, mas válidas. O garçom ainda trocou uma ideia comigo, depois de ver que não sou daqui (e eu achando que meu espanhol tava me deixando quase um nativo).

Encontrei 3 outros intercambistas que vieram de Floripa, Luis, Batata e Mell. Os dois primeiros já estavam aqui há 1 semana, e a Mell está dividindo hostel comigo (ainda não havia visto ela aqui). Descobri que as coisas são bem diferentes do Brasil. Tudo abre lá pelas 9, 10 horas, fecham às 14, para "la siesta", reabrindo às 17, e então fica até umas 9, 10 da noite. Coisa de louco. Nada funciona aqui nessas 3 horas pela tarde! E a vida noturna só começa depois das 2 da manhã! Coisa de louco, né? Agora sei que minhas constantes noites de sono que começavam às 4 da madrugada serviram pra algo. Aqui não terei problemas em dormir tarde, e ainda haverá a siesta para descansar!

Fui à Universidad de Coruña hoje de manhã (24/02) para resolver os problemas de ser intercambista. Foi bem rápido o processo, e consegui entender bem o que a moça falava. Vi também que o sistema aqui é bem diferente. As aulas não são concomitantes, como no Brasil. Darei um exemplo: tem uma aula, Narrativa Audiovisual, que começou dia 23 e vai até dia 17 de março. São aulas todos os dias, começando às 10 da manhã e indo até as 14 horas. Depois, não tenho mais aulas durante o dia. E os exames, só no meio de junho. Portanto, férias!!!

Depois de tapas no almoço, fui com minha colega de quarto procurar apartamento. E, no primeiro que fui, já "fiquei". É meio longinho da Universidad, mas nada que 2 ônibus e 20 minutos não resolvam. Lembrando que estou levando em conta a distância UFSCquiana. Lá, morarei com uma garota da Eslováquia (Katarina) e uma da Letônia (Laura). Onde, na vida, eu dividiria apartamento, ou mesmo conheceria, pessoas de países assim?

E, agora de noite, consegui recuperar minha mala! Depois de 30 minutos de "autobus" até o aeroporto, cheguei lá, peguei a dita cuja, o guarda da alfândega deu uma olhada por cima e "listo". Podia retornar pra casa. Queria ver se tivesse um corpo ali dentro. O cara ia deixar passar reto. Pelo menos fiz minha boa ação do dia e ajudei uma senhora vinda de Belo Horizonte, que estava procurando por suas duas únicas malas. Imagina chegar em um lugar sem nada, só com a roupa do corpo. É por essas e outras que eu digo que tenho "suerte".

Sem mais delongas, termino meu relato agora, exatamente às 21:45 de la noche!

Começam as atividades na Espanha

!Hola chicos!

Esse blog começou com o intuito de ter textos sobre tudo e todos, desde ensinamentos aprendidos pela vida até narrativas aleatórias. Agora, entretanto, ganhou mais uma função: ser meu diário de bordo pela Europa. Por aqui você poderá acompanhar o que acontece comigo nas terras além-mar. Sei que nem todos lerão meus relatos frequentemente, mas sei que, quem entrar aqui de vez em quando, poderá sentir pelo que estou passando, rir de minhas pequenas e frequentes "cagadas" e matar (virtualmente) as saudades dessa pessoa tão querida, simpática, linda, diferente e modesta que soy yo!

!Besos a todos!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Milionário excêntrico decide pintar toda a casa de vermelho.

Hoje. Tinha de ser hoje. Ele não podia mais adiar. Aproveitaria enquanto elas dormiam. Olhou pro lado e viu Paula dormindo calmamente. Ele se levantou e foi ao escritório, ao lado de seu quarto. Abriu o armário, que guardava a sua coleção de armas, as quais usaria um dia para se proteger, caso fosse necessário. Pegou aquela pistola automática, que trouxera da Alemanha. Aproveitou e pegou também o silenciador. Foi à sua escrivaninha, abriu a gaveta... dentre vários de seus papéis, com números sempre em vermelho, havia uma seringa, também em vermelho. Fechou a gaveta.

Voltou ao quarto, e Paula ainda estava lá. Somente com um baby doll, justamente aquele que Alfredo lhe comprara na França. Aproximou-se dela e desferiu-lhe um tiro na testa. Ele viu repentinamente o próprio rosto no corpo de sua mulher; deu-lhe mais três tiros. Alfredo, então, foi ao quarto de Ana Paula, sua filha mais nova. Enquanto isso, lembrava-se da vez que fora seqüestrado. Foram quinze dias de torturas e humilhações.

Entrou no quarto da caçula, que vestia uma camisola do Mickey, e fechou a porta. Reparou nas fotos na parede. Entre algumas de suas fotos na Suíça e outras na África do Sul, havia astros americanos. Chegou perto dela e sentiu uma ansiedade de caçador. Quando ele mirou na cabeça dela, a garotinha abriu os olhos. Alfredo viu em seus olhos o medo. Ana Paula então lhe perguntou:

- O que está acontecendo, papai?

- Nada, minha filha. Logo você vai pra um lugar bem bonito, junto de sua mãe e sua irmã.

- Mas, e você papai?

Alfredo sentiu na boca seca o sabor de uma lágrima. Disparou cinco projéteis na filha. Saiu e foi ao último quarto. Dessa vez pensou em suas várias empresas, que foram fechadas uma a uma por tantas dívidas que fizera. Ele não conseguia entender por que se envolvera com aqueles agiotas. Agora aqueles canalhas lhe cobravam todo dia. Naquele dia mesmo recebera uma carta. Estavam inclusas fotos de sua esposa fazendo compras. Era por isso que não podia deixar que nada de mal acontecesse à sua família.

Chegou ao quarto de Cecília, sua “princesinha”. Esta ainda dormia, só de calcinha. Ela era sua filha preferida. Olhou antes na estante, onde viu livros de odontologia, além de várias obras em francês. Foi até bem perto dela e dali viu seu corpo perfeito. Ela sorria. Parecia um anjo. Pensou na sorte dos antigos namorados dela. Em como seria bom possuir aquele corpo. Não! Tirou a idéia que faz curvas da cabeça. Ele apontou a arma e disparou seis vezes. Já estava mais feliz. Voltou ao escritório e colocou a arma de novo no santuário.

Pegou a escopeta, que comprara no Pantanal, na última vez que visitara os pais. Foi até o banheiro do escritório. Estava chegando a hora. Ele não sabia por que estava mais leve? A sua época de criança voltou à memória, quando brincava com os amigos no rio Paraguai. O primeiro beijo, tão ardente, veio à sua cabeça, justamente com a garota mais cobiçada do colégio. Ele via flores. Colocou a boca da escopeta na testa. Ele estava eufórico. Chegara a hora. Não se preocupava mais com nada. A vida era boa. Deus me protege do Mal.

Na manhã seguinte, a empregada estranhou aquele perfume na casa, além de uma mancha vermelha na parede. Deviam ter matado um mosquito ali. E, como sempre fazia, foi arrumar primeiro o escritório do patrãozinho esquisito.

* texto escrito em 2004