quarta-feira, 14 de julho de 2010

Apanhado geral de tudo

Antes de mais nada, queria agradecer as palavras de apoio e a preocupação do pessoal. Não imaginei que teria tanta repercussão. Mas não se preocupem. Não matei, não roubei nem estuprei ninguém. Na real, como sempre faço tempestade em copo d’água, o que fiz pode ser pequeno e eu dei muita importância. É perigoso, quando descobrirem, pensarem algo como “tudo isso por nada?”. Então, relaxem que não foi nada, ok?

Budapest

Assim que vi o filme inspirado no livro do Chico Buarque, tive a certeza de que precisava ir pra Budapeste antes de sair da Europa. A minha sorte que tudo aqui é relativamente perto, o que facilita minha vida e meus planos.

Como estou me hospedando em albergues, nesse final de viagem, optei por um no centro da cidade, para ser mais fácil me locomover. Lá, conheci alguns cariocas, falantes, e um catarinense. Até saímos de noite, para conhecer a vida noturna de Budapeste. Como era quarta-feira, o movimento estava meio fraco.

E, como praticamente todas as cidades européias, tudo muito grande. Mas, diferentemente do Brasil, não têm muitos prédios residenciais. As construções altas são as igrejas, parlamentos e castelos. Nem deve ter nada relacionado com a idade do Velho Continente e das terras tupiniquins, por exemplo. E eu até consegui ver a estátua do Ghost Writer, que aparece no filme brasileiro. Bem menor do que eu imaginava.

Zagreb

Fui passar o final de semana na Croácia. Chique, né? Grande azar o meu, porque estava tudo parado, só com turistas pelas ruas quentes da cidade. Assim que cheguei, meia-noite, um pequeno perrengue. Não sabia como chegar ao hostel. Como faço, pergunto a quem mais parece com um nativo, e, como sempre, tive sorte em encontrar alguns bem solícitos. Até perguntaram aos taxistas como chegar, e ainda queriam fazer uma vaquinha para pagar minha ida até lá. Queridos, né? Não aceitei, obviamente, e fui de tram (espécie de bonde). E, chegando ao ponto final, ainda encontrei outros dois nativos que me levaram de carro até o albergue. Sim, sou muito sortudo.

Gostei muito da área verde da cidade, tanto o Jardim Botânico quanto alguns parques, onde havia muita gente deitada na grama. Obviamente, como todos sabem, me senti em casa, ou na UFSC. Até dormi!

Outra coisa que me salvou foi ter uma padaria perto do albergue. Como minha alimentação se consiste em pão e chá, me senti em casa ali. Era só andar alguns metro e pronto, já se estava me alimentando. E é sempre interessante a forma de comunicação com pessoas que não sabem o inglês. Sorrisos cativantes, mímica e algumas palavras locais. No mínimo engraçado.

Ljubljana

Não sei vocês, caros leitores, mas eu nunca ouvi falar dessa cidade. E nem estava nos meus planos ficar lá. Era só caminho até a Suíça. Passaria algumas horas ali, entre um trem e outro. Mas, como o albergue ali estava muito barato, e não existe tal tecnologia em Zurique, acabei ficando dois dias e uma noite na capital da Eslovênia.

A parte velha é pequena, mas gostosa de andar. Está certo que não são necessários dois dias para conhecê-la, mas sempre se dá um jeito de aproveitar mais o tempo. Isso inclui andar como turista, passar inúmeras vezes pelos mesmos locais, cochilar em bancos durante tardes quentes. E ler um bom livro, também.

Zürich

Como escrevi antes, não existem albergues na capital da Suíça. Então, apelei para a viagem noturna de trem, saindo às 20:48 e chegando às 9:20, com muitas paradas no caminho. Mas digo que foi bonito acordar com a passagem do chocolate Milka na janela. Nessas horas que eu gostaria de fazer a BIG TRIP de carro, e me perder por todas as possíveis estradas, e assim conhecer lugares inimagináveis.

A cidade, como é de se esperar, é muito cara. E tem inúmeras ruelas na parte antiga. Bem gostoso de andar e se perder. Fiquei boas 6 horas caminhando. Na verdade, passei muito tempo sentado, já que estava com minha pequena grande mochila nas costas. Quando a pesei, antes de sair de Coruña, estava com 12 quilos. Agora, com algumas coisas que peguei pelo caminho, vai mais algum peso aí.

E, depois de tudo isso, Itália! Tenho alguns albergues reservados, mas como sempre penso, planos devem ser feitos sempre, mas você deve estar sempre pronto para mudá-los. De certo, só minha presença em Roma dia 20, para voltar para Espanha, e depois dia 22 minha viagem de volta ao Brasil. Falta pouco! Só 9 dias!

Continua...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Desabafo

A cada dia que passa, vejo que ser certo é errado!

Tenho descoberto pelo mundo que a vida é assim. Não existe mais respeito pelo próximo, fidelidade, fazer algo sem pensar em reciprocidade, sair sem beber ou usar drogas. Acho que é por isso que, assim que cheguei, já quis voltar. Em nenhum momento me senti em casa.

Mas foi bom sair do casulo, ver que o mundo não é só rosas e pessoas legais. Foi assim quando saí do colégio, em que os churrascos da turma eram regados a refrigerante, baralho e banho de piscina. E acho que é por isso que me sinto em casa na faculdade, porque encontrei pessoas boas, que se parecem comigo e com que cresci.

Vir para a Europa me fez abrir a cabeça e os olhos. Só espero que não muito. Se não, voltarei achando que fim de semana tem que rolar cerveja, maconha e cocaína, ou então que namorado ou namorada é uma simples questão de transa fixa, e que podemos beijar e transar com quem queiramos, já que somos jovens.

Em minhas andanças pelo mundo, passo muito tempo vago, pensando. E lembro, todos os dias, de um grande erro que cometi, há algum tempo atrás, e que influenciou minha vida, da pessoa, da minha família e, em menor parte, dos meus amigos. Lembrar me deixa triste, mas norteia minhas decisões para que eu não o cometa novamente. Aqui fiz algumas coisas erradas, e que não me saem da cabeça também. Talvez a melhor opção seja não esquecê-las, para que não se repitam.

Ainda bem que, em 13 dias, estarei em casa novamente, com os meus semelhantes, tanto família quanto amigos. Isso que me ajudou a suportar os 5 meses fora...

Paixão por uma cidade

Praha

Assim que cheguei à capital da República Tcheca, me apaixonei. É um grande centro antigo, onde há pessoas às 10 da noite. Ela é muito receptiva ao turista, com muitas lojas de lembranças, assim como muitos albergues. Falando nisso, o meu era muito bom. Eram 6 camas por quarto, mas, pela divisão de espaço, minha cama (de casal!) ficava após uma porta, o que me dava grande privacidade. Difícil isso em albergues, onde o mais comum são beliches amontoados.

Eu só havia reservado uma noite no local, mas, após conversar com a recepcionista (solícita) na manhã seguinte, acertei mais duas noites. Depois ainda descobri que ficaria sozinho no quarto. Ou seja, poderia transitar livremente sem camisa, ouvir som alto, tomar banho de porta aberta. Não que não possa fazer isso em outros lugares, mas sabe como é, é meio chato ver um cara peludo por aí, transitando livremente e descoberto.

Como ficaria dois dias, adotei o estilo turista, e não desbravador: chinelão, andar despreocupado, fazer tudo sem pressa. Andava por uma zona, depois voltava na hora do almoço para o albergue, tanto para evitar o sol forte como descansar e ver um filme. E como não havia internet no local (único problema enfrentado), assisti a muito filme. Mas conto depois quais são as películas que vi na BIG TRIP.

O mais interessante foi visitar o castelo da cidade andando às cegas. Descobrir ao acaso as coisas sempre me surpreende. E a vista, tanto do prédio como da cidade, era maravilhosa. Também me encontrei em um dos morros da cidade, de onde a vista também era esplendorosa. Enfim, recomendo a cidade a todos!

Continua...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Dois dias intensos de viagem


Bratislava

Como eu não encontrei nenhuma viva alma para me hospedar na cidade, parti para o plano B: hostel, mais conhecido como albergue. Como eram duas noites, não teria problema gastar um pouco (peguei a opção mais barata, obviamente). Cheguei lá já no final do dia 1º, encontrando o local após pedir ajuda a uma dezena de pessoas. É que não encontrei nenhum mapa no caminho.

Após a dificuldade em chegar ao local, a segunda parte do problema era entrar. Não havia nenhuma campainha na primeira porta. Apelei ao bar ao lado, para ver como entrar. A atendente, muito solícita, ligou até para a central de informações. Antes de conseguir alguma que nos ajudasse, fomos agraciados com um cara saindo do prédio e deixando a porta aberta. Enfim, depois de conseguir entrar e ainda ser atendido pelo recepcionista, tudo ficou tranqüilo. Ele só falava francês, o que não foi muito difícil depois de alguns anos de Aliança Francesa.

O albergue era legal, com um quarto com 4 beliches e um quarto com cama de casal. Às 9 da noite, ele foi embora, deixando o local todo para nós. Algo bem difícil de acontecer no Brasil, creio eu. Lá, éramos em 2 australianos, um casal de não sei onde (totalmente excluído), um argentino e eu. Histórias e mais histórias. Tinha gente viajando desde abril, janeiro e não sei quando. A minha viagem era a passeio para eles. O que mais curti foram os planos do argentino. Depois de uma separação e de um filho de 10 anos, vendeu tudo e partiu pelo mundo. Primeiro a Europa, depois México e descer pela América. Desde março está nessa empreitada.

A cidade em si não é tão aproveitável assim. A parte antiga é muito pequena, e em uma manhã se vê tudo. E não estou sendo hiperbólico. Consegui trocar dinheiro, descobrir onde ver o jogo e ver tudo antes das 13 horas. Depois, pelo calor que fazia, voltei ao albergue para resfriar a cabeça e detonar uma melancia! Saudades disso!

Fui ver o fatídico jogo Brasil x Holanda em um bar com outros brasileiros. Ao fim, todos sabemos o que aconteceu. Depois, mais uma voltinha pela cidade e albergue. Como havia internet, fiquei bem algumas horas em frente ao computador, como há muito na fazia. Até consegui resolver problemas meus e de outros, graças à tecnologia. Por isso amo tudo isso.

Wien

Minha ideia inicial era, depois de Bratislava, ir para Praga, na República Tcheca. O argentino, porém, me informou que Viena ficava 1 hora dali e por míseros 11 euros. Como minha passagem de Eurorail não estava valendo para a Polônia e Eslováquia, preferi pagar só isso para viajar. Isso sem falar que havia trem a cada 1 hora.

Cheguei à cidade às 11 da manhã, sem mapa e com uma puta mochila nas costas. Não achei lugar para guardá-la, o que me obrigou levá-la para todos os lugares. Fui andando, andando e andando. Quando via turistas, seguia-os. Afinal de contas, turistas estão sempre vendo pontos turísticos. Pelo menos essa é a ideia da coisa.

Depois de muito caminhar, cheguei ao centro histórico. Muitos prédios antigos, grandes e estrondosamente brancos. Até entendi o austríaco Hitler ser daquele jeito. Eu achei um mapa na vitrine de uma loja, e após tirar um foto dele, me guiava pela máquina fotográfica. Diferente, não?

Como quis viajar em junho/julho, ganhei um grande companheiro de viagem, o calor infernal. Como alojamento em Viena estava muito caro, parti para Praga, onde já havia reservado premeditadamente um albergue, próximo à estação de trem, para não ter problema em chegar à noite. Minha família pode, assim, ver que em alguns aspectos estou amadurecendo, organizando algo e pensando em todos os fatores. Na verdade sempre fiz isso, mas é que sou muito tranqüilo se não dá certo. Enfim, dessa forma parti para Praga um trem antes do esperado, passando apenas (e muito feliz por isso) 5 horas na capital austríaca.

Continua...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Visitando as raízes

A entrada e saída da terra de meu avô foram turbulentas. Sinal, talvez. Mas de que? De que talvez eu não deva esquecer minhas raízes...

Warszawa

Para ir para Varsóvia, tive que pegar um ônibus em Riga, Letônia. Por problemas de trocas de nomes, quase perco o infeliz. Mas não perdi. Isso que importa. O complicado foi o depois de chegar na cidade. Como estou adotando o método do couchsurfing, dependo muito das pessoas me aceitarem e me darem seu endereço. Mas não foi bem isso que aconteceu. Eu tinha dois pedidos aceitos, e optei por um. Porém, a menina não me deu seu endereço, me deixando totalmente perdido na cidade. Por sorte, a segunda opção já tinha fornecido os dados. E o que eu fiz? Me dirigi até lá. Mesmo sendo domingo, 7 da manhã, e sem avisar que eu iria. Espero que nunca façam isso comigo!

O casal era legal. A princípio, não gostei deles, mas também cheguei na manhã seguinte a um casamento. Ressaca, cansaço e tudo influenciaram no humor deles. Ela, 20 anos, é babá e ele, 28 anos, é designer de jóias. No decorrer dos dois dias, entretanto, nossa relação melhorou. Mais conversas sérias e um contato maior.

Quanto à cidade, não gostei muito. A Old City é muito linda, mesmo não sendo tão velha. Ela foi toda reconstruída depois de ser bombardeada na II Guerra Mundial, mas continua com seu charme. Já o centro, pura pedra. Prédios gigantescos, e muito concreto, o que aumentou ainda mais o calor.

O transporte funcionava muito bem. Tanto ônibus quanto os trans, espécie de bonde. Acredito que em toda a Polônia o sistema seja o mesmo: você compra um bilhete antes, autentica dentro do veículo e pronto. De tempos em tempos aparecem os fiscais para cobrar seu bilhete. Isso não aconteceu em Varsóvia. Sorte minha, porque em nenhum momento eu comprei tal bilhete. Ia de "carona" mesmo.


Krakow

Em Cracóvia, fiquei em um dormitório do pessoal de Artes. Não lembro bem quais cursos, mas tinha arquitetura, design e alguns outros. O prédio me lembrou muito o CCE, não o "aquário", mas a parte do cinema, com desenhos pelas paredes. Eram duas garotas, do interior, que me receberam super bem.

A cidade é muito bonita, principalmente o centro histórico. É como uma grande ilha, com muitas árvores em vez de água. Como praticamente todas as cidades européias, igrejas e prédios antigos e gigantes, para serem vistos de longe pelos viajantes e camponeses.

Foi nessa cidade que provei uma iguaria polonesa, o pierogui. Na verdade, já havia comido antes, mas não lembro quando nem onde no Brasil. E ainda tive a oportunidade de comer em um Milk Bar, espécie de bar onde tudo é barato. Recomendo.

Como estava lá, tive que ir a Auschwitz, campo de concentração nazista. É algo muito forte. Já haviam me falado sobre, mas é necessário ter estômago para estar lá. Ver uma sala gigante, por exemplo, cheia de cabelos de presos não é para qualquer um. Me sentia sufocado naquele lugar.

E, depois de um dia cansativo e de ir até Auschwitz, ainda tive problemas no bonde da cidade. Dez horas da noite e eu ainda encontro um fiscal! Nada melhor para terminar o dia! Ainda bem que aceitavam cartão. E, na manhã seguinte, para ir até a rodoviária, impelido pela multa da noite anterior, comprei mais um bilhete, e qual não foi minha felicidade quando fui abordado pelo fiscal e estava com o papel em mãos.

Para viajar para Bratislava, outro parto. Uma possibilidade era ir de trem, e a outra de ônibus, mais barata e mais "rápida". O difícil foi achar o maldito ônibus, que na verdade era uma van, que nos levaria até o ônibus de verdade, no meio da estrada. Enfim, mais um causo para se contar...

Continua...