terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Vida de república

A vida maravilhosa de se morar em uma república. São poucos os que têm coragem para tanto. Primeiro, tem-se que sair de casa. E não é se mudar para outro bairro, para ter roupa ainda lavada pela mamãe. Tem que ir embora mesmo. Outra cidade. Se possível, a mil quilômetros de distância. Assim, não tem perigo de voltar quando apertar o calo ou a saudade.

Depois de se mudar de cidade, tem que achar um lugar bom, mas bom mesmo, com cara de cortiço. Nada de dividir uma quitinete com uma pessoa aleatória e dizer que adotou o estilo de vida de uma república. Isso se chama blasfêmia! Alguém que diz isso não merece viver.

Morar em república, como diria um professor, é ter comida etiquetada na geladeira, para ninguém roubar; ter mural de aviso na cozinha, com funções que nunca são cumpridas; enfrentar fila pra usar a máquina de lavar; xingar o lazarento que demora no banho matinal; ver a louça suja criando vida e se reproduzindo, se misturando à pouca louça ainda limpa.

Outro ponto divertido desse estilo de vida é fazer mil contas pra dividir as despesas e as dívidas; sair no tapa porque fulaninho não pagou a conta de água no dia certo e agora podem cortar a “fonte da vida”; comprar umas cervejas e ficar até 4 horas da manhã bebendo e gritando na sala, enquanto o colega do quarto ao lado (porque sempre tem um infeliz que dorme ao lado da sala) tem uma prova dificílima na manhã seguinte.

Algo curioso é a quantidade de objetos inusitados que se encontra em um lugar desse tipo. Cones e sinalizadores de trânsito laranjas, cadeiras de boteco, caixas d’água fazendo de piscina, placas com nomes de rua, bonecos de posto, carrinhos de supermercado, plaquinhas de banheiro, copos, taças e canecas de diferentes bares, bonecas infláveis.

Uma caixinha de surpresa é o tipo de festa que acontece. Se os moradores são engenheiros, é presença obrigatória a grande quantidade de homens. Se é uma república de garotas, a grande quantidade de homens também comparece, mas se transforma em uma horda de bárbaros sedentos por carne feminina.

Muitas vezes, a festinha, que originalmente era um churrasco entre amigos com carne e pão às três da tarde, se transforma em um grande evento que vira a noite, regada à vodka e energético barato. As conseqüências são diversas. Ou a polícia aparecendo, ou o vizinho jogando uma pedra na janela a fim de que abaixem o volume do som, ou bêbados gorfando no sofá da sala, ou pessoas desconhecidas dormindo em cima da mesa da cozinha, ao lado de latas amassadas e camisinhas usadas.

Enfim, com todas essas características marcantes de uma vida diferente durante o período universitário, por que algo usual e rotineiro? Onde mais você teria companhia às duas da manhã, quando chega em casa depois de aulas cansativas? Com quem você poderia comemorar o aniversário, já que está distante da família? Quem cuidaria de você doente, ou mesmo te ouviria quando bate a depressão de meio de semestre letivo? Só os amigos da república!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Dicas para a vida

Em véspera de Natal, coloco aqui um e-mail que recebi com campanhas publicitárias do Citibank:

"Crie filhos em vez de herdeiros."

"Dinheiro só chama dinheiro, não chama para um cineminha, nem para tomar um sorvete."

"Não deixe que o trabalho sobre sua mesa tampe o a vista da janela."

"Não é justo fazer declarações anuais ao fisco e nenhuma para quem você ama."

"Para cada almoço de negócios, faça um jantar à luz de velas."

"Por que as semanas demoram tanto e os anos passam tão rapidinho?"

"Quantas reuniões foram mesmo essa semana? Reúna os amigos."

"Trabalhe, trabalhe, trabalhe. Mas não se esqueça, vírgulas significam pausas..."

"... e quem sabe assim você seja promovido a melhor (amigo/pai/mãe/filho/filha/namorada/namorado/marido/esposa/irmão/irmã/etc) do mundo!"

"Você pode dar uma festa sem dinheiro. Mas nunca sem amigos."

"Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim, ele saberá o valor das coisas, e não o seu preço."

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Memórias de viagem

Todo universitário deveria, ao menos uma vez na vida acadêmica, ir a um encontro estudantil. Uma experiência inesquecível. É lá que se vive momentos de descobertas, de debates políticos intermináveis e de grandes viagens turísticas.

Não há nada mais interessante que viajar horas intermináveis, às vezes dias, dentro de um ônibus com várias pessoas, ou amigas de longa data ou que acabara de conhecer. No trajeto, a comida de beira de estrada vai mudando conforme a paisagem. E o rigor ou nojo também segue na mesma linha.

Analisando a situação, o divertido é a viagem em si, quando se discute de tudo entre poltronas e álcool. Desde a política nacional até vida após a morte, passando por piadas de português, histórias sobre ETs ou fantasmas e experiências sexuais. Falando nisso, sempre tem aquele que tenta azarar as meninas, com desculpinhas como sentar ao lado ou cair sobre ela em curvas fechadas.

Chegando ao destino planejado – a maioria das vezes alguma cidade litorânea –, o objetivo é reconhecer terreno. Provavelmente o evento será em alguma universidade ou escola. Então, é comum ter o abecedário pelas paredes, parquinho com gangorra e balanço, ou até laboratórios anatômicos e restaurante universitário.

Os painéis, palestras ou seminários – tanto faz a nomenclatura – são intermináveis, com pessoas falando sempre as mesmas coisas, ou então, quando se quer incendiar, colocam opiniões contrárias, e aí o circo pega fogo. Serão 3, 4 longas horas de discussão. Parece até discurso do Chávez.

Os encontristas são um caso a parte. Têm aqueles esquerdistas ao extremo, com uma tatuagem do Che no braço e uma camiseta chamando o PT de pelego. Há também os alternativos, com calças xadrez e ar de intelectual, só pensando em debater a MPB. Não se pode esquecer das patricinhas, que ninguém – nem elas mesmas – sabem o que estão fazendo ali. Foram só pra conhecer o “mundo real”.

Porém, querendo ou não, são nesses encontros que o amadurecer acontece. É lá que se descobre as mais variadas espécies de maconha – sim, muita gente experimenta pela primeira vez em um encontro da vida -, ou então se conhece o amor da sua vida, ou da sua viagem.

Depois disso tudo, quando você já estragou seu estômago de todas as maneiras possíveis, já não tem mais fígado, descobriu todos os banheiros que existiam no lugar, ou até que não existiam, não tem mais roupa limpa, vem a viagem de volta. Enfrentar mais três, quatro dias, com pessoas que não suporta mais e com um cansaço extremo.

E, assim que chega em casa, querendo usar sua privada de estimação, sua folha dupla, tomar aquele banho decente e com água quente, comer algo com origem não duvidosa, vem o querer ter aproveitado um pouquinho mais tudo aquilo, e, talvez, até uma vontadezinha de se enfiar na próxima viagem.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Férias?

As tão sonhadas férias... Depois de quatro longos e cansativos meses de aula, trabalho, festas e sexo casual, chega o período mais desejado dos últimos tempos. É tempo de arrumar a bagunça, ou pelo menos escondê-la em algum canto, colocar algumas roupas na mala e partir para a comidinha da mamãe.

Aos infelizes que são de outros estados, resta uma longa viagem. Como normalmente não compraram com antecedência a passagem de avião, tão acessível nos últimos tempos, apelam para o meio de transporte mais desnecessário de todos: o ônibus.

Às vezes a criatura tem que enfrentar mais de 15 horas dentro de uma prisão sobre rodas. O sujeito fica à mercê de um motorista lazarento, que só para em lugares premeditados, prontos para roubar seu dinheiro em troca de alimentos de três dias atrás.

Outra questão pertinente ao viajante é a dúvida que sempre surge quando está perto de adentrar no ônibus: quem será a pessoa ao lado? Será aquela gorda espaçosa? Um ser que ronca alto durante a noite? Talvez uma mãe com seu filho de colo, que pode chorar a qualquer momento? Se o destino permitir, a poltrona estará vaga por todo o trajeto, permitindo diferentes e incômodas posições tântricas que objetivam algumas horas de “descanso”.

Depois de enfrentar todo o trajeto de retorno ao lar, resta concentrar-se nas férias. Ver os amigos, colocar a conversa em dia, descobrir quem está transando com quem, visitar todos os parentes com sua genitora, até aquele tio-avô velho e caquético.

Falando em mãe, nada melhor do que acordar e ter ainda o café-da-manhã sobre a mesa, o almoço sempre quentinho e farto, um jantar diferente a cada dia, louça para lavar seguida de pedidos carinhosos de mãe, inquéritos sobre a vida acadêmica, profissional e, principalmente, sexual, saber se está se prevenindo, e coisas assim.

Depois dos primeiros 10 lindos e gostosos dias, descobre-se que não se tem mais nada pra fazer. Já visitou todos os amigos, já foi em todas as baladas, já leu (caso leia) todos os livros possíveis. Agora, a rotina consiste em acordar para o almoço, tirar uma soneca depois, passar a tarde em frente à TV ou ao computador, ir com os amigos aos mesmos bares do dia anterior e dormir altas horas da madrugada.

Com um mês de férias, a vontade incontrolável de fazer algo fora da rotina. Caminhar de um lado a outro da casa, ir da TV ao computador, de lá para a cozinha, assaltar a geladeira, depois rumar ao quarto para mais uma soneca, e assim vai.

O calendário se torna o melhor amigo. Todos os dias o universitário está ali, arrancando a folhinha, com o sorriso aumentando assim que os dias caem. Então, ele chega: o dia de retorno às aulas! E, quando se vê, já está almejando as tão sonhadas férias.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Falsa nostalgia

Sim, eu sei que estou sumido, mas foi por causa de um semestre atarefado e corrido. Por isso que, hoje, quando entro de férias em relação às aulas (ainda tenho 2 dias de trabalho), venho atualizar o blog.
Escrevi 6 crônicas como trabalho final para Redação VII, do senhor Hélio Ademar Schuch. Postarei aos poucos meus esforços, hehe.
Que seja aberta a temporada de férias!

Falsa nostalgia

Sabe aquele sentimento de ter saudades de algo que não viveu? Quando você tem nostalgia de um momento que nunca presenciou? É assim com o curso de jornalismo. Muita gente pensa em um jovem jornalista, ainda na faculdade, e imagina uma figura totalmente diferente do que está aí.

Não temos mais aqueles seres cabeludos, barbudos ou bigodudos, ou tudo junto, que pareciam ter mais pêlos que um urso. Que andavam com calças rasgadas, uma camisa colorida e chinelos no pé, em um eterno mundo aprisionado nos anos 70.

Figuras que, se quisessem se divertir, iam passar o feriado em alguma praia deserta, a qual poderiam chamar de seu cantinho especial. Ou então marcariam um encontro regado a alucinógenos e que inspirariam as mais criativas pautas.

Seres que discutiam política por horas a fio, sentados na grama ou em um banco qualquer, seja bebendo café ou cerveja. Que estavam prontos para pegar uma câmera fotográfica ou um gravador, ir cobrir um evento e depois grudar na máquina de escrever até finalizar a matéria.

Pessoas que gritavam aos quatro cantos que não se venderiam ao sistema, “antes passar fome a trabalhar nessa porcaria de jornal alienador das massas”. Indivíduos que, ao se deparar com uma dúvida, iam ao professor mais perto, ou procuravam a biblioteca para se informar sobre o tema.

Hoje em dia, tudo é diferente. Garotas que não saem de cima de seus saltos 15, com mais maquiagem que noiva em dia de casamento, não importando se é às 8 da manhã. Meninos que usam uniforme, como calça jeans e camiseta pólo listrada.

Jovens andam pelos corredores com notebooks e celulares de última geração. Passam o feriado em Nova York ou Paris. Têm mais luzes no cabelo do que o Maracanã em noite de clássico. Pensam em sair da faculdade já com uma empresa de assessoria na manga.

Para se divertir, os novos jornalistinhas vão para as baladas da moda, bebem whisky com energético, e só apelam para a boa e velha cerveja em dias de jogo ou em fim de mês. Política, só em época de eleição, e “nem venha com histórias de movimento estudantil que já dá coceira”.

Por essas e outras que vejo que nasci 30 anos depois do que o combinado, e a conformação é a única solução. Bons tempos de Olivetti, de discussões regadas a café e aos berros sobre literatura, política e sexo, em plena redação. Bons tempos que não voltam mais.